29 novembro 2011

Aquilo que me tira o sono

Eu tenho consciência da quantidade de valores que a sociedade insere na nossa cabeça.
Valores estes que podem ou não ser meus, valores distorcidos, preconceitos...
Sei como somos extremamente frutos de nossas estruturas culturais.
Você tem que ser bonito, usar guarda-chuva, não pode simplesmente usar uma roupa até rasgar, deve ter um celular mantê-lo ligado e preso a você o tempo todo, não pode falar palavrão, não pode ser polígamo, ter liberdade sexual, transcender a própria cultura, não pode amar a pessoa independente do gênero do corpo físico em que ela habita, deve manter uma dramatização de viver pelo supergo depois dos 30 e no ID antes do 20, não pode fumar, beber, se drogar, sair da coerência, corrigir um currículo riscando de caneta, desrespeitar Jesus ou escrever deus com letra minúscula.
Sei, percebo isso, e digo um foda-se. Supero isso.
Foda-se a sociedade, fodam-se os hábitos mecanicamente impostos...
Só que, embora tudo isso, uma coisa prende meu calcanhar de Aquiles nesta lógica e me obriga a me inserir dentro das engrenagens do sistema, para mudá-lo.
A única coisa que realmente vejo como minha obrigação inevitável e rigidamente imposta dentro deste jogo de morais:
A desigualdade social.
Te todos os mais batidos e clichês problemas do mundo, este é o mais "não-ignorável".
É inaceitável que eu possa transcender o mundo, criar uma consciência-de-si e realmente me tornar um "ser humano" se em detrimento de uma massa majoritária.
Prefiro ir menos longe do que ir sozinha.
É inaceitável que não exista a igual oportunidade. Se eu tenho a possibilidade de crescer, que o outro também tenha e então evoluímos juntos, cada qual conforme sua força e vontade.
E é por isto que cá estou, ao invés de tentar me mudar pra uma tribo mexicana tomando chá de peyote.
Devo cada porção de ar que eu respiro à esta obrigação, cada alimento que eu ponho na boca e então minha vida fará sentido e valerá a pena se ela produzir algo que mude mesmo que minimamente isto ou que mostre a possibilidade, uma maneira de fazê-lo para as gerações posteriores, e que a partir disto elas decidam o que vão fazer com isto.
Como eu vou fazer isto eu sinceramente não sei.
Educacionalmente, socialmente, economicamente, politicamente...Bem talvez.
Quero morrer tentando.
Posso viver o tempo que for, ouvir conselhos, sei o quanto sou jovem e que "muita coisa muda".
Pensem o que quiserem, eu não quero convencer ninguém.
Mas não tenho como negar isto.
É apenas o que sinto, e por favor apenas peço que me deêm imediatamente um tapa na cara se um dia eu o fizer.

2 comentários:

Matheus Lima disse...

"Sei como somos extremamente frutos de nossas estruturas culturais..."

E depois vem me falar de natureza humana! humpf!

Marï disse...

Hahaha
Acho - porque ainda não cheguei a estudar tanto assim pra saber mesmo - que acredito na teoria de Piaget, de que o homem é junção de biológico, do social e do histórico.