09 abril 2011

Sobre o massacre em Realengo

“Temos a obrigação de dar solidariedade e apoio às famílias de meninos e meninas vítimas desse psicopata, desse animal”
Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro


Então é esse é o tipo de depoimento de um governador?
Chamar um psicopata de animal? Animal???
Não estou defendendo pessoas que matam criancinhas.
Estou apenas expondo o quão ridícula é a nossa sociedade cheia de sensos comuns, cheia de sensacionalismos: cheia de pão e circo.
A nossa sociedade que despreza as Ciências Humanas, pra continuar na prazerosa ignorância que lhe permite chamar e aclamar um psicopata como animal...
Também não estou criticando o governador.
Ele é só um reflexo da nossa mentalidade séc XIX, que ainda acredita em "excessões de humanidade" à todos aqueles que preferimos ignorar.

6 comentários:

Tania disse...

“Temos a obrigação de dar solidariedade e apoio às famílias de meninos e meninas vítimas desse psicopata, desse animal”
Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro.
A pergunta é:
Então é esse é o tipo de depoimento de um governador?
Chamar um psicopata de animal? Animal???
A resposta:
Sim! Eu, o resto do Brasil e do mundo, concorda plenamente com as palavras usadas por Cabral, eu as repetiria e falaria PIOR!................... Por acaso, era sua filha que acordou cedo, tomou café da manhã com você, te deu um beijo e quando chegou em sua sala de aula sonhando com um futuro melhor, se deparou com um animal portando uma arma apontada para a cabeça dela e simplesmente apertou o gatilho????!!!!! Interrompendo todo o destino dela e de sua família que sonhou e acreditou com ela?...... De fato não foi... Pergunta: Você tem filhos? Sabe de que sentimento se trata quando Cabral se refere ao atirador como ANIMAL?! Só um animal irracional para comentar tal insanidade com tamanha frieza.............. Não use de uma tragédia para atingir o governador, pois na verdade você está desrespeitando as famílias e a todos aqueles que se envolveram com o acontecido trágico........ Um ANIMAL irracional sim! Aquele monstro que destruiu o futuro de crianças e famílias de forma tão trágica e absurda........................................

Matheus Lima disse...

Tania, acho que a questão é: será que o único culpado pela tragédia no Rio foi o assassino?

Ok, vamos supor que o cara realmente era um animal. Ele não nasceu assim, não é mesmo? Quais influências contribuíram para ele se tornar um psicopata? Será que não foi a falta de acesso a uma boa educação pública? Será que não foi a profunda desigualdade social do Rio de Janeiro, que todos nós permitimos existir, em silêncio?

É claro, não dou razão nenhuma pro cara, mas por trás do ato tem coisas muito mais profundas envolvidas, não dá pra se livrar disso simplesmente o chamando de animal, ignorando todo o resto.

Abraços!

Nilton Apolinário disse...

Seguindo a linha de raciocínio do Matheus, quero também dissertar algumas opiniões:

Acerca do fato que ocorreu na escola há de se averiguar uma série de violências e desvios sociais ou humanos, o que não se justifica qualificar o assassino como um animal irracional, até porque não se tem conhecimento nenhum de qualquer animal (gato, cachorro, zebra etc) subtrair a vida de outro ser, muito menos de sua própria espécie por puro prazer, só por esclarecimento Tania, psicopatia é um defeito HUMANO! Não existem animais psicotas ou serials" killers".

Voltando ao meu raciocínio, como eu disse são várias violências que se pode retirar do fato. A primeira, a maior, a mais evidente é sem dúvida aquela que as pobres vítimas sofreram, o aniquilamento dos seus sonhos, de seus anseios, dos seus planos de vida. E em contra partida, de uma forma totalmente conexa, a mesma destruição acometida a seus familiares, tão vitimas quanto as pobres crianças.

Essa é a violência estampada nas matérias de jornais, na tv, na internet. Contudo existem as outras, existe muito mais por trás do psicopata ou do "animal" dêem o nome que quiserem. Mas essas outras não são ditas nem mencionadas na mídia e muito menos pelos nossos governantes.

Primeiramente, o assassino não subtraiu a vida de outrem utilizando a própria mão ou qualquer outro objeto que não fosse especificamente para este fim, ele utilizou uma arma, e possuía uma ferramenta para carrega-la rapidamente, aí eu pergunto a todos: como ele conseguiu essa arma? Não é papel do Estado fiscalizar a venda, o porte ou a posse de armas de fogo? Não é papel do Estado combater o tráfico de armas, a venda ilegal?

Segundo, o acesso livre de qualquer pessoa a escola sem nenhuma restrição, sem nenhum registro, sem nenhuma vigília. Onde está a ronda escolar? Ou o policiamento responsável pelas rondas escolares?

Tudo isso é responsabilidade de um Estado que deveria ser responsável pelas suas escolas, armas e aparelhos repressivos.

Outra violência implícita que ninguém ousa mencionar foi a violência social que todos nós sofremos, eu, as crianças e até mesmo o assassino, isso mesmo, o assassino. Como Matheus mencionou ele não nasceu assim. Uma série de fatores forem se encadeando e implantando em sua mente doentia esse plano trágico, tanto para as crianças quanto para ele, já que ele mesmo se condenou à maior pena imputada a alguém, pena essa que nem o Estado é autorizado a cominar, salvo uma só hipótese restrita.
Não se sabe o que levou o jovem a matar 12 crianças, mas existem indícios de exclusão, bullyng, indiferênça, são todas violências que acabam por destruir uma mente frágil e enquanto não se for pensado nessas causas, nesses fatores juntamente com a omissão do Estado na questão da segurança de todos nós, isso não vai acabar!

Um psicopata não tem medo da justiça nem de sofrer pena, não entende maus ou bons exemplos, não vai assistir o JOrnal NAcional e se repugnar pelo acontecido, talvez aguçará sua criatividade, talvez o instigue mais ainda a cometer crime igual ou muito semelhante, pois há de se dizer que pscicopatia não tem cura! A única forma de estarmos mais seguros é o Estado cumprir o seu papel, de fiscalizador, de propagador da segurança publica e que cumpra seu objetivo de construir uma sociedade justa e solidária, isso sim reduziria muito os casos perversos que temos visto no país!

Matheus Lima disse...

"Alô, alô, Realengo:
Aquele abraço!"
(Gilberto Gil, no samba-exaltação Aquele abraço, ao partir para o exílio, forçado pela ditadura militar)

A dor pelas mortes e pelos ferimentos, brutais e gratuitos, das crianças e pré-adolescentes da Escola Municipal Tasso da Silveira, no bairro do Realengo, na cidade do Rio de Janeiro, não deve obscurecer nossa consciência crítica.

Nada que é humano é somente individual. É individual e social. Mesmo a loucura e suas consequências.

Em que exemplos de violência e insensibilidade, reais e fictícios, o rapaz Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, ex-aluno da escola atingida, buscou inspiração? Onde conseguiu informações sobre o manejo de armas e o planejamento de massacres? Como adquiriu os dois revólveres e a farta munição que utilizou? Por que Wellington, filho de uma paciente psiquiátrica, arredio desde criança, e que já apresentava há vários meses, após o falecimento dos pais adotivos, sinais perceptíveis de descontrole e decadência pessoal, foi esquecido sozinho numa casa herdada, sem apoio nem assistência?

A forma capitalista de vida social, sobretudo em seus traços contemporâneos, engendra um individualismo cada vez mais exacerbado e uma perda crescente de atenção e solidariedade das pessoas entre si. Não é possível outra forma de sociabilidade humana, que reduza tragédias como a que ensanguentou ontem pela manhã o bairro carioca de Realengo?

Estou cada vez mais estarrecido com a cobertura predominantemente passional e facciosa da tragédia ocorrida em escola municipal do Rio de Janeiro, no bairro do Realengo.

O jovem Wellington de Oliveira, autor dos disparos que mataram e feriram alunos inocentes da escola, foi chamado de "meliante" nas primeiras declarações do policial que o abateu e continua sendo indigitado como "assassino" por quase toda a mídia, embora já se saiba que sofria de esquizofrenia desde criança. A mídia negligencia as informações de que Wellington, quando era aluno da escola, passou por vexames e humilhações por causa de sua introversão e bizarrices. Não aborda a falta de acompanhamento e tratamento adequados de um paciente diagnosticado de esquizofrenia desde criança, o que agravou a evolução de sua enfermidade. Não trata das informações sobre atentados e manejo de armas que podem ser acessadas facilmente na internet. Não reavalia a divulgação maciça, cotidiana e acrítica dos mais variados atos e formas de violência praticadas por grandes potências e contumazes delinquentes, reproduzidos em filmes de sucesso e até mesmo em jogos eletrônicos. Não esclarece como Wellington conseguiu as armas e as munições, sem as quais não poderia ter feito seus disparos cruéis e desvairados. Não alerta para a atmosfera envenenada de individualismo e competição em que a infância e a juventude vêm sendo forjadas.

Com essa cobertura irresponsável e superficial, a maioria da mídia apenas acirra a dor e as reações equivocadas dos parentes das vítimas e de um amplo setor popular. E, nesse clima irracional, as autoridades policiais já alertam para possíveis ataques de represália a familiares do jovem atirador.
[Continua abaixo...]

Matheus Lima disse...

São poucos também os professores e mais reduzidas ainda as entidades do magistério que têm vindo a público para lembrar a violência que se tornou endêmica nas escolas, principalmente nas escolas públicas, rebatendo a ideia de que a tragédia do Realengo possa ser considerada um fato isolado e imprevisível. Surpreende também que os movimentos de saúde, sobretudo os de saúde mental, não se empenhem em repor a apreciação do trágico acontecimento num quadro mais objetivo e multilateral, que leve em conta a condição do autor dos disparos, a falta de acompanhamento e tratamento de seu padecimento mental e as circunstâncias finais de abandono e solidão que precederam seu gesto de sofrida insanidade. Preocupa também que juristas de indiscutíveis convicções democráticas não se pronunciem para reclamar o tratamento jurídico adequado que merece um jovem esquizofrênico, mesmo que pratique atos de grande crueldade.

Abalados pelo acontecimento, que não conseguem entender satisfatoriamente, muitos parecem retroceder à Idade Média, quase pregando a condenação dos loucos como endemoninhados e bruxos e seu justiçamento nas chamas de fogueiras.

Vêm à lembrança as advertências de Engels e de Rosa Luxemburgo de que o declínio da civilização capitalista poderia ser seguido não por um salto socialista, mas por uma regressão à barbárie. É preciso insistir, portanto, na necessidade de lutar pela alternativa de uma civilização superior, socialista, baseada não apenas no poder democrático dos trabalhadores, na propriedade social dos meios de produção, no planejamento das atividades econômicas ou em serviços públicos universais e de qualidade, principalmente nas áreas de saúde, educação e previdência, mas também em valores de respeito, solidariedade e ajuda mútua no convívio social.

[...]

Fonte: http://www.correiocidadania.com.br/content/view/5716/9/

Carolina Arrabal disse...

era exatamente isso que ele queria: Popularidade! com tantas crianças passando fome na esquina da sua casa.. ninguem fala nada. isso é tao ruim quanto. pelo menos é a minha opinião !